terça-feira, 3 de abril de 2012

O Cérebro do Adolescente
Considerações
O trabalho abaixo consiste em uma pesquisa sobre estudos conduzidos pelo Dr. Jay Giedd, Daniel Weinberger e Brita Elvevag, no desenvolvimento do cérebro adolescente.
Este estudo me chamou atenção por conter informações concretas sobre este desenvolvimento que eram de meu total desconhecimento.
Para nós, pais de adolescentes, esta pesquisa é útil, pois nos auxilia a entender melhor nossos filhos, ampliando nossa visão sobre eles, para que possamos com muito carinho tentar solucionar os conflitos do dia a dia e a compreender que diante de um mesmo problema, nós adultos e eles adolescentes, por uma questão até física, iremos processar e analisar a mesma situação de maneira diferente. Assim sendo, tenhamos paciência, saibamos dialogar e sejamos ao mesmo tempo firmes, para que estes consigam, mesmo diante de todas as pressões da vida moderna, tomar suas decisões de uma maneira livre e fazer consequentemente boas escolhas.
Para vocês filhos, considero a pesquisa importante e porque não dizer otimista, visto que as conclusões indicam que vocês próprios podem interferir e moldar o seu cérebro até o início da fase adulta. A vocês lanço duas perguntas: Como vcs querem moldar seu cérebro e qual é o resultado final que desejam? Lembro ainda que “o cérebro de vocês não é um produto acabado, como se pensava no passado, mas sim um trabalho em andamento” ( Dr. Jay Giedd).
Ao Poder Público, peço maior austeridade e seriedade no combate a drogas e venda de bebida alcoólica a menores, oferecendo aos jovens ambiente no qual existam oportunidades para crescimento e aprendizado.


Um cérebro adolescente é diferente de um cérebro adulto.
A Neurociência, o estudo científico da biologia cerebral, já revelou que o cérebro passa por mudanças muito significativas ao longo da segunda década de vida.
Pesquisas recentes conduzidas por cientistas do National Institute of Mental Health [Instituto Nacional de Saúde Mental], usando imagens de ressonância magnética (MRI), descobriram que o cérebro adolescente não é um produto já acabado, e sim um trabalho ainda em andamento.
No passado, os cientistas acreditavam que as principais conexões cerebrais estariam concluídas já aos três anos de idade, e que o cérebro estaria plenamente maduro por volta dos 10 ou 12 anos de idade. O Dr. Jay Giedd, do NIMH, relatou que a maturação não cessa aos 10 anos, continuando durante a adolescência e mesmo após os 20 anos de idade.
O desenvolvimento do cérebro adolescente pode ser dividido em três processos:
-Proliferação: rápido crescimento da massa cerebral e formação de novas conexões no cérebro.
-Poda: eliminação de conexões não utilizadas e sem importância.
-Mielinização: isolamento dos circuitos cerebrais para deixá-los mais rápidos e mais estáveis.
Aos seis anos de idade, o cérebro já tem aproximadamente 95% de seu tamanho máximo. Mas a massa cinzenta, a parte do cérebro responsável pelo pensamento, continua a espessar durante a infância conforme os neurônios ganham novas conexões, à semelhança de uma árvore que forma novos galhos, ramos e raízes. Na parte frontal do cérebro, esse processo de espessamento atinge o ápice aos 11,5 anos para as meninas, e aos 14,5 anos para meninos (Lenroot & Giedd 2006). É a chamada segunda onda de superprodução de massa cinzenta, algo que se pensava acontecer apenas nos primeiros 18 meses de vida. Dr.Giedd afirmou em entrevista que “só puderam detectar essa segunda onda de superprodução quando começaram a acompanhar as mesmas crianças, escaneando seus cérebros em intervalos de dois anos”.
“A ocorrência dessa segunda onda de superprodução prepara o cérebro adolescente para os desafios de adentrar a próxima fase da vida, a idade adulta. É um momento de enorme potencial”. (Dr Giedd)
Na sequência, após a superprodução de massa cinzenta, o cérebro experimenta um processo chamado “poda”, no qual as conexões entre os neurônios do cérebro que não são utilizadas enfraquecem e desaparecem, enquanto as utilizadas permanecem – o que se chama de “use ou perca”. É a eliminação de conexões ineficientes ou ineficazes para atingir a máxima eficiência funcional. “Assim como Michelangelo, que partiu de um bloco de granito e foi eliminando pedaços de rocha até criar David, sua obra-prima, algumas conexões são fortalecidas e outras são eliminadas. Em resumo, as funções cerebrais são esculpidas para permitirem e revelarem a crescente maturação em ação e pensamento.” (The Adolescent Brain: a work in Progress, June 2005) [Em tradução livre, O Cérebro Adolescente: um trabalho em andamento, junho de 2005].
Complementando as informações acima, a “poda” sofre grande influência da experiência, o que torna o cérebro adolescente extremamente versátil e capaz de fazer mudanças de acordo com as exigências do ambiente.
A maturação cerebral inicia-se na parte de trás seguindo para a parte da frente, sendo que o atingimento do tamanho cerebral máximo não significa o atingimento da maturação cerebral máxima.
O córtex pré-frontal, uma subseção do lóbulo frontal, é frequentemente chamado de “CEO” ou de executivo do cérebro, e é responsável por habilidades como estabelecer prioridades, organizar planos e ideias, formar estratégias, controlar impulsos, direcionar a atenção. Ele vai ficando mais espesso ao longo da infância, conforme as células do cérebro formam incontáveis conexões com outras células cerebrais.
Estudos com ressonância magnética mostram claramente que o nível de massa cinzenta no lóbulo frontal não se estabiliza antes de cerca de 25 anos, e seu cabeamento e o de regiões relacionadas também ainda não se encontra plenamente mielinizado. Assim, os lóbulos frontal e temporal são os últimos a atingirem maturação.
Deborah Yurgelun- Todd e colegas do Centro de Imagem Cerebral do Hospital McLean em Boston, Massachusetts, vêm também utilizando ressonância magnética funcional para comparar a atividade de cérebros adultos à de cérebros adolescentes. Os pesquisadores descobriram que os adultos, quando processam emoções, apresentam mais atividade no lóbulo frontal (onde ocorre o pensamento racional voltado a objetivos) do que os de adolescentes. Os adultos também apresentam menos atividade na amígdala (parte do sistema límbico do cérebro, envolvida com reações instintivas e intuitivas) do que os adolescentes.
A atividade menos intensa no lóbulo frontal pode levar ao controle menos eficiente do comportamento e das emoções, enquanto a amígdala com atividade aumentada pode ser associada a altos níveis de excitação emocional e a tomadas de decisão reativas.
Assim, um adulto pode fazer uso de processos racionais quando enfrenta a tomada de decisões emocionais, enquanto os adolescentes ainda não estão adequadamente equipados para analisar as coisas da mesma maneira.
Esses conceitos sugerem que os adolescentes podem ser capazes de dar forma a alguns aspectos de seu próprio desenvolvimento neurológico. Eles podem exercer certo controle sobre como passam seu tempo, e podem assim influenciar o modo como seu cérebro é esculpido para a vida adulta. De acordo com o Dr. Giedd, “a atividade cerebral dos bebês é completamente determinada pelos pais, mas os adolescentes, de outra parte, podem efetivamente controlar como o cérebro será conectado e esculpido. As crianças que “exercitam” o cérebro, aprendendo a organizar o pensamento, são capazes de compreender conceitos abstratos e controlar impulsos, e estabelecem as bases neurais que os servirão por toda a vida”. Isso sugere que se façam muitas coisas na adolescência, afirma Giedd “Você faz o cabeamento elétrico do seu cérebro na adolescência. Você quer que ele esteja cabeado para praticar esportes, tocar músicas e estudar matemática, ou para ficar deitado no sofá em frente à televisão?”.
É também importante mencionar a relação entre o consumo de álcool e o desenvolvimento do cérebro adolescente. Pesquisas recentes sugerem que o consumo de álcool afetam adolescentes e adultos de maneira diferente, o que faz sentido em vista do que sabemos a respeito das mudanças que ocorrem no cérebro do adolescente.
Pesquisas de Brown realizadas em seres humanos forneceram as primeiras provas concretas de que o consumo prolongado e abusivo de álcool por parte de adolescentes pode prejudicar o funcionamento cerebral. As pesquisas de Brown em indivíduos de 15 e 16 anos mostraram danos cognitivos em adolescentes que abusam do álcool, comparado a outros indivíduos da mesma idade sem consumo abusivo, mesmo após semanas sem beber. Isso sugere que o abuso do álcool por parte de adolescentes pode ter efeitos negativos de longa duração na formação do seu cérebro.
É importante observar que o trabalho “The Adolescent Brain: A work in Progress” [Em tradução livre, O Cérebro Adolescente: um trabalho em andamento], desenvolvido pelos especialistas internacionais em desenvolvimento cerebral Drs. Daniel Weinberger, Jay Giedd e Brita Elvevag, tem o propósito de mostrar que o desenvolvimento neurológico é uma dimensão importante do desenvolvimento geral do adolescente e nos convidam a expandir nossa visão dos adolescentes.
Há consenso, entretanto, quanto a um aspecto fundamental: adolescentes não são adultos. Eles estão em vias de se tornarem adultos, mas ainda não chegaram lá. Seu desenvolvimento não estará completo antes de cerca de 25 anos, para fazerem julgamentos complexos, sopesar alternativas muito sutis de modo equilibrado e cuidadoso, controlar impulsos e ter visão de longo prazo. “Se as escolhas feitas pelos adolescentes em relação ao uso de drogas e álcool, e de se envolverem em tarefas de aprendizado que sejam desafiadoras têm consequências irreversíveis de longo prazo no desenvolvimento cerebral, é urgente que as escolhas nocivas sejam desencorajadas, e que outras mais saudáveis sejam encorajadas.” (Fatos e Achados de Pesquisas/ Desenvolvimento do Cérebro Adolescente, maio de 2002).
Esses achados sugerem que o melhor ambiente para os adolescentes é aquele em que haja um grau apropriado de estrutura e orientação, no qual existam oportunidades para crescimento e aprendizado, e que os adolescentes precisam estar cercados por adultos que se importam e se preocupam com eles.

Referência:
National Institute of Mental Health (2005) The Adolescent Brain: a work in progress. Available on line at www.thenationalcampaign.org/resources/pdf/BRAIN.pdf
Yurgelun-Todd Frontline interview “Inside the teen Brain” on PBS.org. Full interview available on the web at http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/teenbrain/interviews/todd.html
Act for Youth Upstate Center of Research. Facts and Findings. A collaboration of Cornel University, University of Rochester and the NYS Center for Scholl Safety ( May 2002) www.actforyouth.net/resources/rf/rf_brain_0502.pdf
Giedd, Inside the Teenage Brain. Full interview available on the web at: http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/shows/teenbrain/interviews/giedd.html